quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Amores silenciosos

Cena do filme "Um amor para recordar"

É de se supor que, quem tem blog, é porque gosta de escrever.
No meu caso, isso é verdadeiro, escrever me dá um prazer enorme, daqueles de ficar com sorrisão estampado no rosto... carinha de alegria e realização.
Que me importa se não ganho nada com isso, e nem tão pouco importa se quase ninguém lê. Existem coisas na vida, que se faz para se sentir bem consigo mesma, como um presente que se dá para si.
Esse blog é meu presente pra mim, e acaba sendo também um presente que ofereço à todos que o lêem. E é por isso, que desta vez abrirei uma exceção e postarei ao invés de palavras minhas, um texto do Contardo Galligaris que gostaria de dividir com vocês! Como um presentinho mesmo, feito de palavras, sentimentos, emoções...
Então, lá vai:




Amores silenciosos
por Contardo Calligaris


A gente se declara apaixonado porque está apaixonado ou pelo prazer de se apaixonar?
FAZER E RECEBER declarações de amor é quase sempre prazeroso.

O mesmo vale, aliás, para todos os sentimentos: mesmo quando dizemos a alguém, olho no olho, "Eu te odeio", o medo da brutalidade de nossas palavras não exclui uma forma selvagem de prazer.De fato, há um prazer na própria intensidade dos sentimentos; por isso, desconfio um pouco das palavras com as quais os manifestamos.

Tomando o exemplo do amor, nunca sei se a gente se declara apaixonado porque, de fato, ama ou, então, diz que está apaixonado pelo prazer de se apaixonar. Simplificando, há duas grandes categorias de expressões: constatativas e performativas. Se digo "Está chovendo", a frase pode ser verdadeira se estamos num dia de chuva ou falsa se faz sol; de qualquer forma, mentindo ou não, é uma frase que descreve, constata um fato que não depende dela. Se digo "Eu declaro a guerra", minha declaração será legítima se eu for imperador ou será um capricho da imaginação se eu for simples cidadão; de qualquer forma, capricho ou não, é uma frase que não constata, mas produz (ou quer produzir) um fato. Se eu tiver a autoridade necessária, a guerra estará declarada porque eu disse que declarei a guerra. Minha "performance" discursiva é o próprio acontecimento do qual se trata (a declaração de guerra). Pois bem, nunca sei se as declarações de amor são constatativas ("Digo que amo porque constato que amo") ou performativas ("Aca- bo amando à força de dizer que amo"). E isso se aplica à maioria dos sentimentos.
Recentemente, uma jovem, por quem tenho estima e carinho, confiava-me sua dor pela separação que ela estava vivendo. Ao escutá-la, eu pensava que expressar seus sentimentos devia ser, para ela, um alívio, mas que, de uma certa forma, seria melhor se ela não falasse. Por quê? Justamente, era como se a falta do namorado (de quem ela tinha se separado por várias e boas razões), a sensação de perda etc. fossem intensificadas por suas palavras, e talvez mais que intensificadas: produzidas. É uma experiência comum: externamos nossos sentimentos para vivê-los mais intensamente -para encontrar as lágrimas que, sem isso, não jorrariam ou a alegria que talvez, sem isso, fosse menor.

Nada contra: sou a favor da intensidade das experiências, mesmo das dolorosas. Mas há dois problemas. O primeiro é que o entusiasmo com o qual expressamos nossos sentimentos pode simplificá-los. Ao declarar meu amor, por exemplo, esqueço conflitos e nuances. No entusiasmo do "te amo", deixo de lado complementos incômodos ("Te amo, assim como amo outras e outros" ou "Te amo, aqui, agora, só sob este céu") e adversativas que atrapalhariam a declaração com o peso do passado ou a urgência de sonhos nos quais o amor que declaro não se enquadra.

O segundo problema é que nossa verborragia amorosa atropela o outro. A complexidade de seus sentimentos se perde na simplificação dos nossos, e sua resposta ("Também te amo"), de repente, não vale mais nada ("Eu disse primeiro").

Por isso, no fundo, meu ideal de relação amorosa é silencioso, contido, pudico. Para contrabalançar os romances e filmes em que o amor triunfa ao ser dito e redito, como um performativo que inventa e força o sentimento, sugiro dois extraordinários romances breves, de Alessandro Baricco, o escritor italiano que estará na Festa Literária Internacional de Parati, na próxima semana: "Seda" e "Sem Sangue" (ambos Companhia das Letras). Nos dois, a intensidade do amor se impõe com uma extrema economia de palavras ("Sem Sangue") ou sem palavra nenhuma ("Seda"). Nos dois, o silêncio permite que o amor vingue -apesar de ele não poder ser dito ou talvez por isso mesmo.
No caso de "Seda": te amo em silêncio porque te encontro ao limite extremo de uma viagem ao fim do mundo, indissociavelmente ligada a um outro, e nem sei falar tua língua. Você me ama em silêncio porque sou outro: uma aparição efêmera, uma ave migrante. No caso de "Sem Sangue": te amo, e não há como falar disso porque te dei e te tirei a vida. E você me ama pelas mesmas razões pelas quais poderia e deveria querer me matar (os leitores entenderão).

Nos dois romances, a ausência da fala amorosa acaba sendo um presente que os amantes se fazem reciprocamente, uma forma extrema (e freqüentemente perdida) de respeito pela complexidade de nossos sentimentos e dos sentimentos do outro que amamos.

Publicado originalmente na Folha de São Paulo de 26.06.08



RONDELLI DE RICOTA E PASSAS AO MOLHO BECHAMEL

 


Ingredientes
Massa:
500 g de farinha de trigo.
5 ovos.
1 pitada de sal.

Recheio:
600 g de ricota amassada.
150 g de passas brancas.
150 g de nozes picadas.
Sal e salsinha picada a gosto.
4 xícaras (chá) de molho branco

Modo de preparo
Em uma superfície lisa faça um monte com a farinha de trigo. Abra uma cavidade no centro e ponha os ovos e o sal. Misture os ovos com a farinha e amasse bem com as mãos até formar uma massa uniforme. Deixe descansar por 30 minutos. Corte a massa em pedaços, abra-a com um rolo de macarrão, em retângulos de 20 cm x 40 cm e coloque-a sobre um filme plástico. Reserve.Em uma tigela misture a ricota, as passas e as nozes. Tempere com o sal e a salsinha picada, espalhe sobre a massa e enrole a massa como um rocambole. Embrulhe bem a massa como uma bala grande e ponha-a em uma panela com água fervente. Cozinhe por cinco minutos. Retire do fogo, deixe esfriar, corte-a em fatias médias e disponha-as em um refratário untado. Regue com o molho e leve ao forno médio pré-aquecido por 20 minutos. Sirva com queijo ralado.
Dica: Para dar um toque de sabor, acrescente noz-moscada ao temperar a ricota.



Ah! Como tenho uma Julinha em casa, aproveitei a massa para fazer alguns rondellis só com queijo e presunto dentro, já que o paladar das crianças pede algo mais simples.
Passarei aqui a melhor receita de Molho branco que eu já fiz na vida!! Fica cremosa, na consistência exata e com um sabor delicioso!!!
Molho Branco (Bechamel):
. 70g de manteiga
. 1/4 de xícara (chá) de farinha de trigo
. 400ml de leite. 100g de queijo parmesão ralado
. Noz moscada ralada a gosto
. Sal e pimenta a gosto

Modo de Preparo
Em uma panela, aqueça a manteiga, adicione a farinha de trigo e mexa bem até os ingredientes se integrarem. Junte aos poucos o leite quente sem parar de mexer. Acrescente o queijo, o sal, a pimenta, a noz moscada e cozinhe no fogo brando, até começar a engrossar. Desligue o fogo e reserve.





Música do filme Um Amor Para Recordar



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2 comentários:

  1. Querida Uci, ha muito tempo aprendi que tudo o que é expressado e/ou simbolizado nesse mundo é uma "cristalização" ( ou uma estátua de sal) daquilo que é vivo, anímico.Como se fosse uma foto registrada de um momento entre muitos, que nos dá apenas uma pequena idéia de algo muito maior.
    Por outro lado, no principio era apenas o Verbo e o Verbo se fez carne- que eu sempre identifico em cada concretização de uma ideia, em cada expressão manifestada,que nos ajuda a crescer e nos relacionar com o mundo. Para mim essa corrente é contínua, sem inicio e nem fim e nós fazemos parte dela, mais: somos a corrente.
    E nos encontramos aqui. Parabéns pelo teu post , maravilhoso. Garanto que tudo o que voce escreve é apenas uma partícula que expressa a grandiosidade do teu ser- não é todo o teu ser. Mas nos dá a chance de te conhecermos melhor e de chegarmos mais perto da tua essência.
    Beijos

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  2. Como você interessou-se pelo encontro de blogueiros em Curitiba, publiquei hoje um post falando sobre isso. Enviei e-mail também. Aguardo confirmação para retornar com maiores detalhes.
    Bom final de semana!

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