sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A moça tecelã





Descobri a autora Marina Colasanti enquanto pesquisava para um trabalho sobre as Mulheres na disciplina de Antropologia.

Treinei com uma amiga (que faz teatro) à empostação correta da voz, as pausas, e a entonação que me permitissem passar da melhor forma possível toda a sensibilidade deste poema.

Por falta de tempo não foi possível ler o poema. Ficaremos portanto, sem saber se eu conseguiria não me emocionar na frente de todos ao declamá-lo... já que ele me fala tão a fundo...

E nos sensibiliza tanto  porque nos conta de forma tão delicada sobre os sonhos e fantasias que permeiam o inconsciente feminino desde sempre!

Faço parte de uma geração de mulheres que puderam buscar a realização profissional  além de realizar-se como mães e esposas.
Ainda assim, pergunto-me até que ponto, séculos de uma cultura que sempre relegou à mulher a segundo plano, ignorando-a como um ser dotado de potencialidades e desejos que não só os de "cuidar e atender às necessidades do outro", não estariam internalizados em mim mesma e em todas as mulheres que compartilham comigo os desafios de conviver num mesmo "tempo" , com paradigmas tão dissonantes quanto os que se impõem para a mulher nos dias de hoje. Paradigmas esses que ainda estão por ser quebrados à medida que procuramos respostas para perguntas que antes nos pareciam já respondidas.

- Como sermos boa mães e boas profissionais?

Descobri que o caminho parece ser aquele que aponta para a percepção de que essas duas coisas não são contrárias, mas que ao invés disso podem se complementar para que possamos desempenhar estes dois papéis, não de forma perfeita! Isso já seria utópico! Mas da melhor forma possível.
Existem ainda  muitos desafios a serem superados por nós mulheres, e muitos outros papéis a serem assumidos e vividos de forma mais plena, e sem culpas.


Mas pelo menos, já tecemos algum caminho...

E as mulheres que vierem atras de nós, nossas filhas, já terão um esboço a seguir.
Tomara que elas sejam ainda mais livres que nós,
que possam amar muito mais,

e ser muito mais felizes e realizadas

nas suas vidas profissionais,

como mães e esposas se assim o desejarem,

e na vida !

Mas se perceberem que o "bordado" não ficou como esperavam, que elas possam simplesmente desmanchá-lo, tal qual a "Moça Tecelã" fez,

e que possam tecer outra história para si mesmas.




A Moça Tecelã

Por Marina Colasanti
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.





TORTA TENTAÇÃO SUPER PRÁTICA




Ingredientes:

Massa:
  • 1 pacote de biscoito de Aveia e Mel
  • 100 g de manteiga em temperatura ambiente
  • 3 colheres (sopa) de chocolate em pó
Recheio
  • 1 lata de leite condensado
  • a mesma medida de leite
  • 1 gema
  • 2 colheres (sopa) de amido de milho
  • 3 colheres (sopa) de chocolate em pó


Modo de preparo

Massa: Em um liquidificador, bata o biscoito até obter uma farofa. Coloque em uma tigela, junte a manteiga e o chocolate em pó e misture até obter uma massa homogênea. Reserve. Forre o fundo e as laterais de uma forma redonda (daquelas que possuem as laterais removíveis) com a massa. Leve ao forno preaquecido a 180 graus C por 10 minutos. Desenforme e reserve.

Recheio: Em uma panela, misture o leite condensado com o leite e o amido de milho. Leve ao fogo baixo e mexa sem parar até engrossar. Cozinhe por aproximadamente 10 minutos. Retire do fogo e divida o creme em duas partes iguais. Misture o chocolate em pó a uma das partes.

Montagem: Recheie as massas, colocando o creme claro e, por cima, distribuindo o escuro. Leve à geladeira até o momento de servir.

2 comentários:

  1. Querida Uci, essa fábula da Marina Colasanti é de uma profundidade e beleza tão imensas,que desejo que todas as pessoas, não só as mulheres, possam ter a sorte de conhece-la. Ao contrário de se ficar à deriva da vida ( na mitologia grega, as Tecelãs do Destino é que determinam como será a vida de cada ser humano ), a jovem tece seu próprio destino, ela mesma decide como vai viver. Quantos de nós traçamos o caminho que queremos percorrer, com suas perdas e ganhos? Quantos de nós apenas esperamos para ver "no que vai dar"? Adorei essa postagem. Um grande abraço.

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  2. Que torta deliciosa!
    Parabéns pelo blog!

    andreaquitutes.blogpot.com/

    Andréa....

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