segunda-feira, 18 de junho de 2012

A abelha vôou...


Era um sábado à tarde qualquer de uma aula de psicanálise que...Não! Esta não era uma aula qualquer...

Enquanto o professor tentava desenvolver o tema do dia, eis que entra uma pequena abelhinha preta pela janela, daquelas do tipo abelha-mirim,  um pouco menor que as outras abelhas que conhecemos.

A abelhinha, um "mirinzinho" preto, voou na direção de várias pessoas e seguiu dançando aparentemente despretensiosa em volta do professor, parecendo competir com ele por atenção.

Voava  como que a cumprimentar cada membro da roda. Como que a pedir uma permissão necessária para uma  justificada e inevitável interferência.

Fiz esforço extra para continuar focada no que o professor dizia, mas bom, acho que enfim o dia também não era um dia qualquer, e ele mesmo parecia se esforçar para continuar no assunto ao qual havia se preparado.

De todas as aulas especiais de psicanálise, aquela aula foi de longe, a mais estranha e perturbadora de todas. E não só pelo tema do dia, "trauma", que seria por si só extremamente perturbador, mas também por uma conjunção de fatores, situações e diálogos que me afetaram muito mais do que eu gostaria de admitir.

Penso agora que, a própria disposição do grupo em círculo, favoreceu um clima quase mágico que parecia nos envolver a todos, da mesma forma que fazia a abelhinha ao voar por entre as pessoas.

Chequei a pensar que ela estava atrás do pé-de-moleque que eu levei para comermos no intervalo.
Então, eu desejei internamente, por um segundo, que ela pousasse na minha mão.

E as coisas estranhas começaram a acontecer...

A abelinha saiu lá da frente, voou seguindo o círculo e parou em mim, no dorso da minha mão. Fiquei imóvel por alguns segundos e  percebi que as meninas que estavam do meu lado, olhavam espantadas para a cena. Fiquei com medo de atrapalhar a aula, e principalmente que o professor visse.
Nesse momento, soprei a abelinha de leve para não machucá-la, e também para não ser picada, imaginando o absurdo daquela situação e tentando voltar para uma realidade que parecia cada vez mais distante.
Confesso que ouvia a voz do professor ficando cada vez mais longe, como se apenas seus lábios se mechessem mas não saísse nenhuma palavra audível deles.
Algumas pessoas tentaram matá-la, mas eu consegui acudir a tempo. Pobrezinha! Tão lindinha, e tão agradável sua visita, como uma testemunha muda do que se passava ali, e que se fizera presente exatamente para nos lembrar das coisas que a alma precisava urgentemente dizer.Como uma represa que começa a ruir por um furinho, e que  começa finalmente a desaguar aos poucos, porém sem possibilidade, e muito menos tentativas de contenção.
Então tive meu segundo pensamento louco. Pensei: essa abelhinha lindinha irá pousar na minha mão, e eu a levarei até a janela, para que ela possa ir embora.
No mesmo momento, acudi com outro pensamento: Nossa! Meu caso é grave! Que coisa absurda!!!
Então, no próximo segundo após o pensamento...Juro! Ela pousou na manga da minha blusa, por dentro da blusa, no meu pulso!

Nesse momento eu me levantei vagarosamente. Senti  que todos acompanhavam com  olhar de curiosidade o que acontecia. O professor ficou com alguma frase pendurada na boca, uma frase  suspensa no ar pelos instantes que levaram para que eu voltasse a me sentar.

Levantei-me cuidadosamente com a abelhinha no meu pulso e caminhei vagarosa mas firmemente até a janela.  A  abelhinha pretinha e lindinha voou livre pelo sábado afora, levando sua mágica com ela, e nos deixando com a experiência compartilhada daquele encontro de almas que procuram se confortar umas nas outras.
O mais estranho foi o vazio sentido logo ao sentar e retornar ao meu lugar...

Deveria ter ficado com ela só mais um pouquinho...Deveria ter sentido sua presença com muito mais intensidade. Deveria ter olhado mais prá ela. Mas quase sempre somos resistentes em acreditar nos milagres e muito menos em ouvir a própria alma.

Levamos tempo para compreender algumas coisas que nos são ditas, simplesmente porque elas nos parecem absurdas e totalmente impossíveis de acontecer. Preferimos negar o que entendemos, ou o que nós mesmos sentimos, tentando atribuir significados banais, como um disfarce das verdades.

Entretanto,de hoje em diante, irei tentar me lembrar de chamar a abelhinha, todas as vezes que  sentir o impulso de me proteger atrás de tantos muros.Deixarei que a abelhinha pouse no coração, e deixe que minha alma fale, e meu corpo dance.

 
(Eu sei que não são abelhas, e sim borboletas na imagem. Mas o significado delas, me darei o direito de guardar segredo. Quem sabe, saberá.)

Significado das abelhas

 Na Grécia antiga, as abelhas eram símbolos do trabalho e da obediência. Nos ensinamentos órficos, as almas eram representadas por abelhas, não apenas pela sua associação com o mel (produto divino), mas principalmente porque elas migram em enxames. Considerava-se também que as almas emanavam da Unidade Divina em grupos parecidos a enxames. No simbolismo cristão, as abelhas são emblemas de eloqüência e diligência no trabalho; nas tradições hindo-arianas e islamíticas, conservam a mesma significação espiritual da tradição órfica (relativo a Orfeu, deus grego).



Dedido esta música, para todos os meus professores-psicólogos, que me abastecem  de palavras para que eu escreva novos textos na minha própria  história.




4 comentários:

  1. Passando pra fazer uma visita, deixar um oi e dizer que é sempre um gosto passar por aqui...seus textos são ótimos de ler...

    Saudades
    bjks

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    Respostas
    1. Anita sua linda!
      Que saudades menina!
      Obrigada por passar por aqui!
      Um beijão mesmo!
      Volta logo!

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  2. Nossa, eu não sabia que para os gregos antigos tambem a abelha simboliza a alma, e mais interessante ainda, que para eles as almas migram em enxames, é para se pensar... mas é mesmo para se pensar o quanto de fato sabemos de nós mesmos e sabemos daquilo que nos cerca, e o quanto fugimos desse saber. Bela postagem! Um grande abraço.

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  3. OI Elaine querida

    Então...Muito interessante mesmo...
    Saber de si, é uma busca que nunca termina...Uma busca linda!
    Até porque, saber de si mesmo, nos dá uma maior compreensão do outro.
    beijos querida e muito obrigada por passar aqui!

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